sexta-feira, 29 de junho de 2012

DIA DO AGENTE: DEZ MANDAMENTOS PARA QUEM ESCOLHEU A PROFISSÃO

Numa relação de 600 para 10, é óbvio que a minoria ficará na memória da maioria. Dentro e fora dos presídios. 


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Foto: Hora do 'tranca' no presídio do Serrotão...
Nesta quinta-feira (28) “comemora-se” o Dia do Agente Penitenciário na Paraíba, figura profissional que ganha maior destaque quando se mete em casos de corrupção, tortura e mortes [de presos]. Para contrabalancear, listamos abaixo uma espécie de Dez Mandamentos para quem se arrisca a assumir tal função. Assim, quem sabe, o leitor conhece um pouco mais além da parte podre da história.
1 – Cuidado no trajeto ao presídio. É extremamente fácil saber os dias em que você está de plantão. Ao sair de casa, olhe bem para todos os lados. Se for dirigir abuse dos retrovisores, sempre com sua arma a postos. Parar no sinal é sempre um risco. E lembre-se: não deixe sua psicose ser maior do que a realidade. Alguém inocente pode pagar caro pelo estresse da profissão que você escolheu.
2 – Quando chegar à penitenciária, saiba que banho de sol é um direito do preso. E é você quem vai abrir as celas. Se seu diretor ‘deixar’, vá armado. Se esse requisito básico de segurança não for permitido (sim, há quem pense assim), não dê uma de herói para cima dos detentos. Pode jorrar sangue do seu corpo.
 3 – Durante o banho de sol, torça para que as duas horas de “liberdade coletiva” transcorram em paz. Em caso de rebelião, você é obrigado a manter a ordem e evitar uma fuga em massa. Mas cuidado: se você matar algum detento vai gastar dinheiro com advogado e ouvir muitas críticas por parte de quem não estava lá para apaziguaros ânimos.
 4 – Quando terminar o banho de sol, volte a pisar em ovos na hora que for fechar as celas. Após o sagrado direito da luz solar, alguém tem que manter os presos trancafiados. Esse alguém é você. E, se por acaso, eles não quiserem se recolher, saiba que vem bronca pela frente.  Você tem cinco segundos para lembrar o que rezam a Lei da Execução Penal e o Código Penal Brasileiro (e a Bíblia, se achar preciso).
5 – Mas digamos que o banho de sol foi tranquilo (‘normal’JAMAIS será!). Se você for escalado para uma escolta até o fórum judicial, seja curioso. Quem é o preso? De que cidade ele é? Que crime cometeu? Qual a sua pena a ser cumprida? Ele tem ligação com quadrilhas ‘organizadas’?  É, muitas vezes alguns agentes não encontram tempo para fazer esse levantamento antes de sair com o apenado do presídio, com medo de atrasar a audiência e tomar uma bronca do juiz.  Bem. Você é quem sabe...
6 – Presos também são feitos de carne e osso, também adoecem e vez por outra precisam ser levados ao hospital. Tome as mesmas precauções acima. Em Campina Grande [por exemplo], dois agentes penitenciários esqueceram essa lição ao levar um detento para um posto de saúde no bairro da Palmeira e tiveram armas apontadas à cabeça dentro da unidade. Na fila de pacientes havia cerca de 20 pessoas. Mais da metade eram comparsas do preso, disfarçados. “Se reagir, morre aqui mermu!” Renderam os agentes e levaram o parceiro embora...
7 – É, presos também têm coração e choram a perda de um ente querido. Por isso, a lei lhes garante uma visita rápida ao local onde um familiar esteja sendo velado ou sepultado. Você lembra do cenário de um velório [mãe, pai, irmãos, crianças, idosos, vizinhos, amigos...]? Você tem certeza vai efetuar um disparo?...
8 – Voltemos ao intramuros. Vez por outra, você deverá vasculhar as camas e roupas dos presos, em busca de armas e drogas. Uma pedra de crack [por exemplo] custa em torno de R$ 10,00. Cem pedras retiradas dos presos já são R$ 1.000,00 de prejuízo no negócio. Quanto mais você tirar, maior será o desfalque. Agora responda: quantos desafetos você irá acumular nos seus cinco, dez, vinte, trinta anos de profissão?
9 – Os que mais lhe criticam [destrutivamente] dormem um sono pesado com a cabeça num confortável travesseiro. Você, quando estiver de plantão, não pode dormir no ponto. Na esmagadora maioria das unidades penais paraibanas a parede é uma fileira de tijolos, o chão é terra fofa, câmeras de segurança são coisa de cinema e o poder bélico disponível é simplesmente ‘impublicável’, sob pena de estarmos piorando ainda mais a situação. Mas se houver fugas, relaxe. A falta de estrutura será suplantada pelo excesso de especialistas no assunto.
10 – As 24 horas de plantão foram tranquilas? Ótimo. Mas não vá comemorando. A volta para casa é tão maliciosa quanto a saída dela. Não se esqueça, é extremamente fácil saber os dias em que você está de plantão. Ao sair do presídio, olhe bem para todos os lados. Se for dirigir abuse dos retrovisores e cuidado: parar no sinal é sempre um risco. Carregue sua arma sempre a postos e só sorria quando chegar à sua casa. Uma família lhe espera. E somente ela é capaz de esquecer a parte podre da profissão que você escolheu. 

Matéria retirada na íntegra do ParaibaemQAP | 28 JUN 2012 | 09:30

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